Se você atua no Terceiro Setor, já deve ter ouvido falar em construção de capacidade ou capacity building, certo? O termo se refere ao processo de aumentar a capacidade de uma organização para cumprir sua missão de forma eficiente e sustentável.
Um estudo da American University e da North Carolina State University revelou que as organizações que recebem qualquer tipo de subsídio para capacitação aumentam seus orçamentos em cerca de 10% nos três anos seguintes à doação.
Isso indica que o apoio para capacitação está positivamente associado ao crescimento financeiro das organizações sem fins lucrativos. O estudo incluiu 184 organizações sem fins lucrativos que receberam apoio para capacitação ao longo de um período de 12 anos
Deu para perceber a importância da construção de capacidade para alcançar a sustentabilidade financeira das organizações e atuar de forma orientada à inovação social, certo?
Para aprofundar ainda mais nessa temática, neste artigo você conhecerá os elementos da construção de capacidade e os primeiros passos para implementá-la na sua organização. Vamos lá?
O que significa construção de capacidade?
De acordo com o Council of Nonprofits, o conselho das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) dos Estados Unidos, a capacitação é tudo o que é necessário para levar uma organização ao próximo nível de maturidade operacional, programática, financeira ou organizacional, para que possa avançar de forma mais eficaz e eficiente sua missão no futuro.
A Learning for action (LFA), por sua vez, utiliza uma analogia com o corpo humano para explicar o que é construção de capacidade. A manutenção do corpo humano é análoga aos vários sistemas, como o nervoso e o circulatório, que precisam funcionar bem – e em sincronicidade – para que o corpo seja saudável.
Uma pessoa pode buscar tratamento somente depois que um problema em um sistema é identificado, e então escolher um tratamento para tratar tal problema. Alternativamente, essa mesma pessoa pode buscar aconselhamento médico para identificar quais atividades resolvem problemas de saúde existentes e previnem futuros. Essa segunda opção representa o significado de construção de capacidade.
De modo geral, quando a capacitação é bem-sucedida, ela fortalece a capacidade das organizações sem fins lucrativos de cumprir sua missão ao longo do tempo e de ter um impacto positivo nas comunidades.
Por que as organizações devem investir em capacity building?
É comum que algumas organizações não priorizem a construção de capacidade, uma vez que estão mais preocupadas com as ações de curto prazo e com a demonstração de resultados.
A tendência em favorecer programas faz sentido. Grande parte das organizações é composta por indivíduos que estão promovendo uma nova ideia: Uma abordagem diferente, método ou sistema para atender a alguma necessidade social urgente.
No entanto, o desenvolvimento de capacidade funciona como a “infraestrutura” necessária para apoiar e transformar as organizações, ou seja, permite que os colaboradores e stakeholders desenvolvam competências e habilidades que podem torná-las mais eficazes e sustentáveis.
Por isso, quando a organização investe na identificação de uma estratégia de comunicação, melhora o recrutamento de voluntários, garante a sucessão de liderança, atualiza a tecnologia e melhora a forma como ela mede seus resultados, ela está desenvolvendo sua capacidade para cumprir com eficácia a missão.
Isso ajuda a organização a ter maior controle sobre seu próprio desempenho, sobretudo porque requer uma mentalidade de melhoria contínua – que é o ingrediente principal do alto desempenho.
Para resumir, as organizações sem fins lucrativos, assim como as empresas, precisam se concentrar na construção de capacidade de toda a organização, se quiserem maximizar seu impacto social. É basicamente por isso que ela é tão importante!
Os elementos da construção de capacidade
Existem maneiras diferentes de as organizações desenvolverem capacidade. Com o “boom” da sigla ESG, esse pode ser o momento ideal para implementar essa estratégia na sua organização. Contudo, descobrir a estratégia que mais se adequa à organização pode levar um tempo. A boa notícia é que existem métodos para tomar a decisão mais informada possível.
Por esse motivo, antes de falarmos sobre os elementos da construção de capacidade é importante esclarecer alguns pontos para eliminar suposições e escolher um método de construção de capacidade que atenda às necessidades mais urgentes de sua organização. Confira a lista abaixo!
- Avalie as necessidades da organização: envolva todos os colaboradores nessa decisão e defina uma lista com as principais necessidades.
- Avalie seus recursos: você perceberá que, às vezes, as principais necessidades derivam de uma única causa raiz. Cada colaborador verá sua necessidade como a mais urgente, por isso verifique quais necessidades podem ser atendidas por recursos existentes ou ferramentas gratuitas.
- Desenvolva a estratégia: combine investimento de tempo e recursos e verifique qual melhor se adequa à necessidade da organização (a lista de elementos você confere a seguir!)
- Monitore o progresso: assim como a estratégia de captação de recursos, a estratégia para construção de capacidade precisa ser monitorada de perto. Agende check-ins e anotações recorrentes para avaliar os resultados.
Agora que você já sabe como escolher a estratégia de construção de capacidade, chegou a hora de conhecer os principais elementos desse conceito.
É importante ressaltar que diversas instituições evidenciam um ou outro elemento da construção de capacidade. Aqui, contudo, optamos por utilizar como referência o manual da Rockefeller Foundation que postula seis elementos principais, conforme mostra a figura abaixo.
Cultura curiosa
Um dos elementos da construção de capacidade é a cultura curiosa. Isso acontece quando a equipe tem autonomia e quando a organização valoriza e apoia o questionamento a experimentação e a transparência.
Para a Rockefeller Foundation, a ideia do gênio solitário é um mito. Os indivíduos criativos são necessários, mas não suficientes para que a inovação seja sustentável dentro da organização. Como disse o presidente do Google entre 2015 e 2017, Eric Schmidt, para inovar, “você precisa ter a cultura”.
Para mudar as crenças que moldam a cultura da organização, é necessário concentrar esforços em: (1) Incentivar o pensamento crítico; (2) Promover a comunicação e (3) Repensar o espaço físico – ou, em tempos de pandemia, a organização de trabalho remoto.
Diversidade
A diversidade de idade, gênero, orientação sexual, raça, religião e experiência de vida é um ingrediente essencial para a construção de capacidade nas organizações do Terceiro Setor. Lembre-se que a uniformidade é inimiga da criatividade, por isso invista em equipes diversas!
Além de trazer mais ideias para a mesa, a diversidade incentiva que a equipe esteja aberta para ideias novas. Outro ponto importante é que incluir colaboradores cujas experiências refletem as da população atendida pela organização pode garantir que os produtos e programas sejam melhor projetados.
Recursos disponíveis
A inovação pode acontecer em ambientes com recursos limitados. Contudo, para serem sustentáveis a longo prazo, as organizações precisam mobilizar recursos em tecnologias, ferramentas e treinamento.
É senso comum que as organizações do Terceiro Setor enfrentam um desafio específico quando se trata de garantir recursos para apoiar a inovação já que dependem de concessões, contratos ou programas específicos.
Assim, para se destacar a longo prazo, as organizações precisam: (1) Estruturar um plano de financiamento; (2) Estruturar funções da equipe para permitir o foco na inovação ao mesmo tempo em que entregam projetos contínuos e/ou específicos e (3) Realizar investimentos inteligentes em tecnologias, ferramentas e treinamento
Limites Fluidos
Esse elemento está alinhado ao de “cultura curiosa” pois as organizações que atuam para construção de capacidade sabem que boas ideias podem vir de qualquer lugar. Por esse motivo, as organizações devem se manter atentas e incentivar o livre fluxo de ideias e informações dentro da organização, entre organizações e com o “mundo externo”.
Para potencializar o elemento de “limites fluidos” na sua organização, você precisa ouvir e colaborar com seus stakeholders, além de trazer variedade de vozes e apoiar a cooperação.
Caminho de ideias
Esse elemento representa as estruturas, critérios e processos que as organizações utilizam para cultivar, avaliar e desenvolver novas ideias. Se bem gerenciado, o caminho de ideias melhora a qualidade, relevância e eventual impacto dos esforços de inovação de uma organização.
Da mesma forma que ocorre na iniciativa privada e em órgãos públicos, a burocracia e a rigidez podem bloquear a criatividade e impedir que a organização construa sua sustentabilidade financeira.
Liderança comprometida
A inovação requer que os líderes sejam capazes de assumir riscos, tolerar a incerteza e aprender com os sucessos e fracassos. Sem uma visão inspiradora, a maioria das pessoas se envergonhará dos desafios que o trabalho de inovação apresenta.
Pontos importantes da construção de capacidade
Como você percebeu, construir capacidade é vital para a saúde a longo prazo e eficácia das instituições grandes e pequenas! Para desenvolver essa habilidade, é necessário que haja uma “estrutura de capacidade”, que é a dimensão organizacional (capital humano e infraestrutura) conectada à cultura.
De acordo com o Venture Philanthropy Partners, a cultura é o que conecta os outros elementos da construção de capacidade. Ela inclui valores e práticas compartilhadas, normas de comportamento e, mais importante, a orientação para o desempenho.
Algumas organizações tendem a acreditar que a construção de capacidade está limitada a um ou outro elemento. Contudo, é na conexão dos elementos que reside a força do capacity building: cada elemento é importante individualmente e relacionado aos outros.
Esperamos que este artigo tenha lhe ajudado a entender melhor o conceito de construção de capacidade. Ele pode contribuir para a inovação na sua organização!
Larissa Gaspar Líder de Comunicação Institucional na Incentiv.me Jornalista e apaixonada por ouvir e contar histórias, atua na área de Relacionamento e Comunicação da Incentiv.me.