A capacidade de captar e gerir recursos de forma eficaz e eficiente é um dos principais desafios da sustentabilidade financeira
Para tratarmos sobre sustentabilidade financeira e a importância dela nas organizações do Terceiro Setor, precisamos responder às seguintes perguntas:
- Como vamos captar recursos?
- De quem vamos captar recursos?
Existem diferentes formas de captação, bem como são várias as fontes de recursos. Vamos entender melhor sobre a importância da sustentabilidade financeira nas organizações?
Sustentabilidade Financeira
Para toda e qualquer atividade desempenhada pela organização, a administração financeira se apresenta como fator principal no direcionamento das tomadas de decisão, impactando no direcionamento de seu desenvolvimento sustentável.
Vale ressaltar que a sustentabilidade financeira das organizações não se resume apenas à sustentabilidade financeira, mas também a um conjunto amplo de fatores que influenciam o seu desenvolvimento.
A integração harmônica da gestão financeira com os aspectos sociais e ambientais representam as condições para a sobrevivência e sucesso da OSC (Organização da Sociedade Civil).
A gestão financeira representa um dos principais desafios de gestão no terceiro setor. Desta forma, apresenta-se o planejamento financeiro como ferramenta de gestão básica de auxílio na tomada de decisões por parte dos gestores das organizações sociais e relaciona-se diretamente com os aspectos estratégicos da OSC.
Como a receita da organização baseia-se na diversificação de fontes de recursos para garantir as atividades a longo prazo, o planejamento está sujeito a maiores incertezas, por isso é importante também adotar planejamentos mais curtos (normalmente um ano) e adequados à realidade da organização.
Planejamentos de curto prazo ajudam a ordenar as alternativas e priorizar que direção dar à organização.
Captação de recursos
Diversificar fontes é trabalhoso, mas é justamente o que garante autonomia e sobrevivência à uma organização. É preciso diversificar as formas de captação com criatividade, transformando ameaças e oportunidades em soluções para manter a organização sustentável.
Estraviz, no seu e-book “Um dia de Captador”, comenta que o ideal seriam pelo menos três fontes de recurso e cada uma delas não poderia representar mais que 35% dos recursos da entidade.
Ou seja, nenhuma fonte de recurso deve ser mais que um terço da receita da instituição. Por exemplo, um terço dos recursos vindos do poder público, um terço de empresas e um terço de uma parceria internacional.
A diversificação, além da sustentabilidade financeira, traz o reconhecimento. Uma instituição que obtém seus recursos de diferentes fontes nacionais e internacionais está sendo legitimada pela sociedade como algo representativo e útil!
E para isso, portanto, podemos elencar uma série de estratégias que buscam diversificar as fontes de receitas:
Grandes doadores
São estratégias para mobilizar recursos junto a grandes incentivadores pessoas físicas (indivíduos) ou pessoas jurídicas (empresas). A ideia é apresentar a causa de forma personalizada e direcionada, provocando uma resposta tanto intelectual quanto emocional do doador.
Uma estratégica mais secundária no Brasil, é o legado onde o doador destina uma parte da sua herança para a instituição que se compromete em levar o legado dele adiante.
Hoje, a melhor forma de prospectar grandes doadores é por pesquisa e indicação de outros grandes.
Financiamento coletivo
O financiamento coletivo, também conhecido como crowdfunding, é a mobilização de múltiplos doadores (usualmente pessoas físicas) para converter um projeto em realidade.
Essa forma de financiamento existe desde muito tempo (a famosa “vaquinha”), mas foi potencializada com a internet. Existem sites especializados em crowdfunding onde a instituição pode colocar seus projetos e mobilizar doadores para investir a quantia desejada.
É possível, inclusive, oferecer e receber contrapartidas de acordo com o valor doado (ganhar ingressos especiais, material customizado do projeto, livros etc.). O mais importante é criar no doador a sensação de que ele faz parte da ação e dos resultados, estimulando o engajamento que é muito maior que uma troca financeira.
Um detalhe sobre as plataformas de financiamento coletivo é que o modelo de negócio usual delas é a cobrança de uma taxa por doação feita. Os descontos da plataforma devem ser levados em conta na elaboração do projeto.
A plataforma da Incentiv.me, por exemplo, é uma das algumas ferramentas disponíveis de financiamento coletivo.
Geração de renda própria para sustentabilidade financeira
Geração de renda própria são empreendimentos capazes de gerar receita para uma OSC, normalmente por meio da venda de produtos ou prestação de serviços relacionados às causas sociais.
É importante observar a legislação, pois a venda ou prestação de serviços não pode ser a atividade fim da OSC, mas pode ser uma atividade meio.
Além da inovação social, as estratégias de geração de renda própria são importantes pois auxiliam a sustentação financeira por meio de recursos desvinculados de projetos, portanto que podem ser aplicados livremente.
Abaixo, algumas estratégias de geração de renda própria.
Marketing relacionado à causa
Empresas e organizações sem fins lucrativos formam uma parceria para vender um produto ou serviço em benefício para os dois lados. É uma ferramenta para divulgação da marca da empresa (marketing) e da causa da OSC, além da captação de recursos propriamente dita.
Nessa estratégia, a OSC deve estabelecer critérios bem definidos e que trabalhem em conjunto com critérios éticos da natureza das atividades das empresas, por exemplo, a OSC deve analisar se a empresa tem uma política de responsabilidade social que é de fato seguida.
Licenciamento
Criar um personagem e sua história e oferecer os direitos de imagem para outros utilizarem em seus produtos (por exemplo, o Seninha, do Instituto Ayrton Senna). Nesse caso, a organização não se envolve na execução. Ela elabora o planejamento de marketing e escolhe os parceiros e empresas que têm a ver com a imagem produzida. A instituição, assim, fica com uma porcentagem sobre as vendas.
Mantenedores
É a estratégia de buscar empresas e indivíduos com capacidade de contribuir para a instituição e que façam isso de forma periódica e continuada. Quanto maior a carteira de mantenedores, mais fácil fica conseguir novos, pois a instituição fica legitimada pela quantidade dos doadores.
Normalmente, causas com maior apelo emocional têm mais sucesso nesse tipo de geração de renda. Greenpeace, Médicos sem Fronteiras, museus e instituições religiosas são exemplos de organizações com sucesso nesse tipo de estratégia.
Venda de produtos ou serviços auxiliam na sustentabilidade financeira
Antes de tudo um aviso: é muito importante ter cuidado para que a venda de produtos e serviços não extrapole a condição de atividade meio, ou seja, vender não deve ser o objetivo final de uma OSC.
A ideia é que a OSC venda um produto ou serviço inovador e de qualidade, por meio de bazares esporádicos, loja própria ou distribuidores. É um recurso importante, pois traz uma sustentabilidade para a instituição que não depende de terceiros.
Empresas privadas às vezes gostam de apoiar OSCs que tenham produtos ou serviços pois sabem que quando pararem de doar a organização não vai sumir, mas sim seguir “caminhando com as próprias pernas”.
Além da produção própria, a OSC também pode receber bens apreendidos pela Receita Federal e vendê-los em bazares (ou distribuir gratuitamente na execução de programas sociais). É importante verificar a data, pois essas recepções não podem ser realizadas em anos eleitorais.
Eventos
Organizações sem fins lucrativos podem promover eventos que também podem se tornar grandes fontes de receita. Eventos religiosos, feiras, eventos gastronômicos. São muitas as possibilidades!
Agora que apontamos algumas práticas que ajudam a tornar uma organização financeiramente sustentável, que tal aplicá-las ao seu caso?
Raphael Almeida Head de Finanças na Incentiv.me Nerd e economista nas horas vagas, ama planilhas e números. Atua na área Financeira da Incentiv.me.